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quinta-feira, 27 de agosto de 2009

MAS QUE DROGA

(Foto: www.novellos.blogspot.com)

A pressão mundial para a legalização surtirá efeito a curto ou médio prazo, inevitavelmente. Legal ou não, as drogas são um ônus social e um custo ao Estado, sob vários aspectos, direta ou indiretamente, seja na área da saúde ou judicial, dentre outras. Presentes desde o início da humanidade, o homem sempre encontrou meios lícitos ou não de produzi-las. Na primeira metade do século 20, os americanos fabricavam caseiramente uísque até de milho para driblar a Lei Seca. A droga sempre foi uma questão posta em qualquer sociedade, em qualquer época. Droga por droga, ao governo interessa as que podem gerar arrecadação superior aos gastos gerados pelas mesmas. A aritmética é banal: droga que não gera imposto gera prejuízo; droga que gera imposto gera lucro. Mas há que se ter, sempre, da parte do Estado, um discurso politicamente correto que embase a proibição e que mostre preocupação humanitária e não econômica, uma vez que a legalização alavanca o consumo e os consequentes gastos estatais. Assim, a discussão sobre a legalização do uso das drogas na perspectiva humana é hipócrita, uma vez que as drogas, comprovadamente, individual e socialmente mais danosas, são as legais, o tabaco e o álcool. Unicamente, sabe-se, são legais por gerarem tributos ao Estado. O discurso oficial é outro, mas o real é este. A lógica é mais ou menos a mesma usada por Bush para a invasão do Iraque: falsa justificativa humanitária, e de fato interesse econômico pelo petróleo. Segundo um delegado me informou, maconha não é taxável, portanto, segue sendo ilegal, apenas por não dar possibilidade de lucro para o Estado. Não sou usuário, nem favorável à legalização ou não. Não sou favorável à hipocrisia, isto sim, vício e doença bastante mais nefasta. Legalizada a maconha, qualquer maconheiro a plantaria num vasinho em casa com a qualidade a que está acostumado. O mesmo é inviável para o usuário - ou pelo menos bastante complicado – em relação a álcool e tabaco. Por outro lado, a maconha legalizada e vendida em maços em qualquer padaria ou boteco não seria comprada pelo consumidor, posto que, industrialmente produzida, não teria a mesma qualidade da artesanal. Seria ignorada pelo dependente, que vem de uma cultura safa. Então, o governo não arrecadaria centavo num cenário deste. Conhece-te a ti mesmo. Conhece tua sociedade e teu governo. O capital, a política nacional e o neoliberalismo alimentam-se da espoliação do homem e sua maior arma de convencimento velado é a adulteração das causas reais, a mentira maquiada e o acobertamento das reais intenções. Sua grande propaganda é de foco subliminar ou explícita, embora parcial. Já está em tempo de pararmos de sermos um povo ingênuo, que é enganado e ao final das contas não tem certeza se realmente o foi. Somos promíscuos, rodeados por promíscuos, sonhando com um mundo de virgens, mas sempre sendo currados como se isso não fosse o comum e o esperado. Acreditamos nos papéis sociais e nos roteiros embutidos nestes, embora a ação dos atores não seja condizente com seu texto, nem a orientação dos diretores. Seguem outras marcas. Contudo, reiteradamente, o óbvio nos deixa perplexos. Reelegemos um Sarney ou um Collor e depois ficamos pasmos quando estes canalhas nos estupram a dignidade. Sarney e Collor, dentre outros da mesma espécie, estão certos, são coesos com seus carateres e ideais de exploração com fins ao poder e ao enriquecimento desmedidos. Nós é que, errados, somos em nada coerentes: esperamos um tipo de conduta digna, mas elegemos e reelegemos serpentes e escorpiões para nos representarem ou governarem. Como diria Brecht, “será que governar só é assim tão difícil porque a exploração e a mentira são coisas que custam a aprender?”. Por isso respeitamos um deputado ou um vereador, mas não um lixeiro. Quando, em geral, o lixeiro é muito mais digno de respeito (como pode este homem sujo, rude, sem educação nem cultura ser mais digno do que aquele cavalheiro de terno e gravata, perfumado, diplomado, refinado? Mas, em geral, o é…). No caso das drogas, as únicas saídas são educação, trabalho e dignidade. Não há atalhos. O único atalho existente é entre o usuário de drogas e a cadeia: 70% dos detentos no Brasil ligados à droga são pequenos usuários, com bons antecedentes, primários, não vinculados ao uso de armas e ao narcotráfico. No Brasil, comprovadamente, o narcotráfico lava dinheiro nas bolsas, em casas noturnas, bingos, boates, restaurantes, joalherias, seguradoras, casas de câmbio e de objetos de arte, dentre outros. Isto já está fartamente provado e seguimos fingindo que os chefes do trafico são os bandidos malvados que estão, malvestidos, nos morros cariocas e periferias paulistanas ou nas prisões de segurança máxima. Embora saibamos que ostentam ternos, togas e comendas, e lotam tribunais, câmaras, empresas e bancos. As AK-47 e AR-15 são as armas do exército do tráfico, mas os diplomas e os cartões de crédito internacionais são as armas dos grandes traficantes no topo desse organograma. Os soldados e os oficiais menores do tráfico estão nas favelas, mas, os generais, nos clubes privados e condomínios de luxo. Óbvio que os próceres da sociedade não são presos. Talvez assumir que nossas instituições cheiram mal, putrefatas, seria um duro golpe em nossa identidade e autoestima. Ou na do sistema que autorizamos. Então, seguimos fingindo que os mocinhos não são bandidos. E preso continua sendo o pessoal que está na quebrada fumando seu baseado, ouvindo seu reggae ou seu rap, bodes expiatórios pobres e pretos. Afinal, no Brasil, o usuário é tratado como traficante, e o traficante real é tratado como doutor, meritíssimo, excelência…

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

DESABAFO

(Foto: www.afresquinha.blogspot.com)

Lamentável. Lula implodiu os pilares de sua biografia. Fundou o PT erguendo bem alto a bandeira da ética e o que se vê hoje é um homem malandramente conivente com casos de corrupção maiores do que os que ele, enquanto oposição ou sindicalista, enfrentava indignado. Dilma Roussef pode ser boa técnica, desenvolvimentista etc., mas é uma mulher totalmente desqualificada para exercer a presidência. Dilma é um Serra de saia com qualidades muito menores e defeitos muito maiores que os do governador de São Paulo, além do que sua maturidade política e experiência são infinitamente menores que as de Serra. Dilma é uma mulher estressada, com queixo de vidro e pouco jogo de cintura. Femininamente insegura e autoritária em sua essência e com sérias falhas de caráter. Pega já em algumas ocasiões mentindo em curto espaço de tempo - no caso do dossiê de FHC, nos mestrados e doutorados fantasiosos na Unicamp (talvez, inconscientemente, ela quisesse ter uma formação intelectual mais consistente, mais elitizada, mas um mestrado e um doutorado em economia numa Unicamp não é mesmo para qualquer um) e, por último, no caso do encontro com a Sra. Lina Vieira. Dilma já se mostrou muito à vontade na conivência com a corrupção. Quem é conivente com corrupção, corrupto é. Como lamentavelmente tem sido corrupto Lula. Portanto, antes de chegar à campanha, já vemos que Dilma é corrupta. O próximo capítulo é conhecido: no palanque, ela vai tentar nos provar que não é corrupta. Não há que se usar meias palavras, há que se dar nome aos bois… e às vacas. Dilma está indo com muita sede ao pote, isso é visível. Está inebriada com a possibilidade de ser presidente. Felizmente, a boa nova é Marina Silva, que tirará votos de Dilma. Marina, sim, equilibrada, preparada, consistente, digna, com uma causa fundamental para todos. Se Marina for eleita será muito provavelmente uma excelente estadista. Se não for, poderá tirar dona Dilma do páreo. Então, Marina vem para nos redimir sob qualquer perspectiva. Dilma, se chegar à presidência, com tanto poder, o quanto não manipulará, dado que já demonstrou este desvio? Já, quanto a Sarney… Este é completamente inqualificável. Talvez, o maior cafajeste que este país conheceu da última metade do século passado para cá. Ganha em canalhice de qualquer político que possa se alinhar com ele: Maluf, Quércia, Collor, Roriz, Cunha Lima, ACM, Barbalho, de qualquer pulha dos tantos do Judiciário e de qualquer empresário ou pastor bandido, maior do que Dantas e Macedo. Sarney é a ponta de um iceberg que tem ascendência sobre sua base cravada em grande parte da máquina administrativa federal e estadual, do PMDB e do setor elétrico com uma vasta corja de corruptos a seu dispor… Mas, ele está velho, é um homem trêmulo e frágil, e em poucos anos ou até menos já não estará, forçosamente, no poder. Tem um encontro marcado, intransferível e inadiável, com seu velho amigo Toninho Malvadeza, que o aguarda calorosamente. Afinal, se Dante, conduzido aos círculos infernais, guiado por Virgílio, encontrou condenados pelos seus atos errantes na Terra muitos religiosos, santos, filósofos, ícones da mitologia grega, Judas e vários personagens, podemos crer que Sarney, como ilustre que é, terá o seu lugar cativo entre tantos outros ilustres.

sábado, 25 de julho de 2009

CORRUPTOMETRO

(Foto:www.senado.gov.br)

Esta é uma pesquisa exploratória sobre a corrupção na política brasileira, validada pela amostragem probabilística consagrada, que leva em conta cinco variáveis: (1) tempo de corrupção; (2) grau de corrupção; (3) níveis de reincidência; (4) abrangência do dano socialmente causado; e (5) abrangência geográfica. Os testes aplicados são validados por instituições como: MIT, Harvard, Cambridge, USP e pela Fundação Desembargador Jacinto Pinto Mello do Rego. A medição das variáveis vai de zero a 10, auferidas pelo índice FDP (Fator Determinante por Período) parametrizado pelo lastro estatístico QUE CU (Quociente Universal do Estrato de Corrupção Ubíqua). O cômputo final da FDP - ou, em linguagem técnica, FDPutagem - leva em conta em seu cálculo o grau de exposição e o tempo dispendido no experimento. Um grupo político ideal foi observado submetido a uma situação de abstinência de alimentos por 48h e a uma posterior superexposição a iguarias inicialmente destinadas a seus eleitores prévia e igualmente privados por 72h, ou seja, estando em situação 50% mais crônica que os políticos. A condição posterior ao experimento, crucial e anteriormente conhecida dos participantes, foi de um novo período de abstinência alimentar de 48h, desta vez para ambos os grupos. Em suma, lapsos de 48h intercalados de alimentação, segundo estudos do ucraniano Lulalá Valew Ahesperah (2002), demonstram bom grau de assimilação pelo organismo. Sabidamente, de acordo com Silva e Silva (2006), 120h de abstinência alimentar podem provocar danos cerebrais irreversíveis e óbito. O poder de decisão da distribuição dos alimentos foi dado aos políticos que, em última instância, saciaram sua fome em detrimento dos eleitores que sucumbiram, o que, finalmente, garantiu-lhes um índice de recuperação de até 100%. O fator isolado como causa desta escolha em relação à coisa pública foi a ativação, por parte dos políticos em tal situação limite, da proteína FODA-SE (Fator Oxidante de Desagregação Arterial – Seção Esquerda), presente abundantemente nesta classe de indivíduos em particular e responsável pela momentânea inibição da capacidade ética pela via cerebral inerente à aptidão de discernimento entre certo e errado no contato com seres - teoricamente - da mesma espécie. O grupo controle, formado por igual número de ratos, procedeu à divisão do alimento com seus iguais, demonstrando a inexistência da proteína FODA-SE no cérebro destes animais. A conclusão parcial a que se chega é que: “FODA-SE, para os políticos, é condição sine qua non, pré-requisito essencial que norteia as ações desta classe de indivíduos em relação ao grupo social e, ainda, para a perda de senso crítico no julgamento e trato entre coisa privada e coisa pública, com consequente e regular apropriação indébita da coisa pública”. Este estudo provou ser generalizável a todo o espectro político, validando a formulação futura de leis e teorias. Abaixo, Quadro 1 indicativo do estudo:

Políticos Avaliados - Grau de FDPutagem - Índice de Recuperação
Sarney - 10 - 100%
Renan Calheiros - 10 - 100%
Collor - 08 - 100%
Yeda Crusius - 10 - 100%
Jader Barbalho - 08 - 90%
Maluf - 09 - 90%
Quércia - 08 - 85%

*As variações entre mesmo Grau de FDPutagem e diferentes Índices de Recuperação em cada caso referem-se ao nível de adaptação individual ao ambiente corruptível, bem como às idiossincrasias referentes às necessidades de saciedade mais ou menos voraz de cada espectro político. Assim, pode-se observar que Sarney e Calheiros têm um grau máximo intrínseco de FDPutagem (100%), já Maluf apenas possui um alto grau de FDPutagem (90%).

VERTIGEM - Estado mórbido em que o indivíduo tem a impressão de que tudo gira em torno dele, ou de que ele próprio está girando…

(Foto: http://www.diariodonordeste.globo.com/)

Tudo destruído aqui desse lado. Toda a estrutura ruiu… Parti da frente do elegante prédio onde ela e seu marido moravam. Um por andar. Cortei pelo largo dos travestis, estacionando o carro junto a um, fatalmente jogado ou estrategicamente colocado no campo de visão de sua enorme janela. Janela feminina, larga e abarcadora como a dona. Ela, que tinha dito “absurdo esses homens assediando esses travestis!”; e eu, cínico, “absurdo!”, já quase emendando um “isso lá é coisa de homem?!”, e quase insistindo: “alguns casados e sem falar na AIDS!”, sem perceber que ela já cessara seu comentário e eu ali discorria minha hipocrisia e destilava o uísque de seu marido agora em silêncio… “Menino, me traga já esse balde!”. A erva secou na sorvida sôfrega do homem velho como areia de praia com mar de ressaca. Definhou-se como no refluxo da maré, indo e vindo como cavalo crioulo atrás de égua, e era lá que eu me via como criança, a mãe vendo eu brincando com balde. Vigília calma na areia calma também… “Pela ordem, meu amor, de importância – li em algum lugar – os fatores que mais determinam, no Brasil, as chances de ser pobre são: viver no Nordeste; trabalhar no campo; ter uma família grande; e ser negro”. Aquele infeliz parado lascivamente à minha frente agregava todos esses pontos, impregnados, ali, de pulso, batimentos, longe da fria estatística jornalística ou acadêmica, mas tão presentificados quanto sua alma de silicone e a gilete partida acomodada entre os dentes e a bochecha. “Só não vou rasgar tua cara por que teu rosto é muito bonito!”… “Olhe, meu pai, os olhos desse boi manhoso. Deus, que você tanto procura, está lá dentro, meu pai. Você pode ver, paizinho?”… Estanco com a janela aberta, a minha, olho mágico da podridão individual e coletiva pela qual um nordestino rude e magro com um gracioso e gasto vestido de chita cresce à minha frente. Cresce em tamanho. Cresce em odor. Cresce em identidade aculturada, embora afirmada. Cresce em miséria. Estamos agora os dois paralisados na expectativa do jogo… Eu não quero brigar com você, quero não, te dar um tapa na cara, uma trolha no teu orgulho, quero é te amar, deitar na porra daquela cama e meter em você até tua boca escancarar de riso e de sol e eu te apertar num abraço de criança pobre que ganhou seu brinquedo de natal e que não vai mais largar, nunca mais mesmo, que agarrou a felicidade improvável e, frágil pra viver sem ela, gruda forte como o que, e eu gosto desse jogo de cena sistemático que você não muito hábil impõe, que só adia mais e tempera um pouco essa trisca, esse embate de vida que nós, até hoje, nos permitimos e que nos alivia de tudo que não é nosso, está no lá fora e não vem de nós dois… Volto tragado pelo bafo quente de cachaça e, a vista turvada pelo uísque, fecho num close muito evidente de pelos, cicatrizes e marcas, forçante por parecer fêmea. Mas vou outra vez. A coisa é toda convulsão e terror dela mesma… A água só, só indo e vindo, ninando, embalando junto da música baixa, porque longe, que vem do rádio. Um blues. Era um blues e o blues é triste e não combina com aquele mar. Não por ser triste, que os dois o eram, o mar e a canção, mas por ser música de negros tocando pr’um menino e pr’uma mãe albinos, solitários, concentrados cada qual no brinquedo e no desvelo, num dia nublado que era e lembrava a tristeza. O mar cinza, a areia cinza, o céu cinza, a vida cinza… Sim, eu sei, eu bebo você, mas é só porque você me diz inverdades. Eu colo em tua alma para iludir que espreito infidelidades pelo buraco da fechadura, ou, em filosofia, “verdade da razão”, aquela verdade necessária e cujo oposto é impossível, exatamente a que eu preciso que parta de você e esparrame um gramado úmido que me anestesie no dentro… “Sabe como a gente perde tudo? Eu fiquei assim: não chorei, não falei nada, não pensei nada. Tô pelejando. Aquilo foi coisa do demo, minha mulher estendida, morta na curva. Minha filha ainda disse: ‘pai, a mãe ta morta?’. Minha filha contava onze anos e dizia: ‘pai é barro!’. Não tinha chovido, era sangue. Rasgou o rim, rasgou a cara, rasgou o pescoço, o olho e a língua e a minha vida toda. O homem do carro que atropelou era conhecido nosso, morava perto, foi recolhido ao sanatório por noventa dias, ficou doidinho, saiu e falou que não lembrava nada, nunca teve carro. Minha filha hoje conta quinze”… Sabes o que é ver, nua, bela, não tua, a mulher que amas tendo o filho de outro na barriga? Tenho passado os dias com esta mulher e é muito doído vê-la assim, feminina, frágil, com filho de outro na barriga. Barriga que desejei e não fiz. Antes eu a via menina minha e nisso me enganava. Hoje, vejo-a mulher de outros e nisso me abismo. E estou olhando o abismo… Os cães movem-se pelo gramado como o tempo. Constantes. Presentes. Tu não estás. Quando estás, não estou eu. Assim, nunca nos encontramos, nunca nos afastamos. Quando sinto te tocar, não me toco por ti, o que me toca é a dor. Quando me tocas, não sou tocado, não me sinto. Quando não me tocas, à tua mercê fico e isso tudo amarga como o vício… É preciso, também, reduzir a desigualdade na distribuição de renda, que não parou de crescer desde os anos 1960. Se entre 1960 e 1980, ao mesmo tempo em que cresceu, o Brasil tivesse melhorado a distribuição de renda na mesma proporção que a Malásia, teria reduzido o número de pobres não em 60%, como ocorreu, mas em 90%… Nervoso, com a voz meio engrolada, falo para o sujeito mostrar o corpo. Calmo, qual um comercial de televisão, desce por nós um cortejo fúnebre de carros escuros na noite escura, lentos e de faróis altos e ficamos os dois tesos e quietos, ela de pé e eu sentado, como quem descoberto crê que disfarça. E a romaria era sem fim, não tinha termo, não findava de passar… Passa uma senhora e ela diz: “agradeça a Deus pelo teu homem, pelas duas mãos fortes que ele tem pra trabalhar e pelo sorriso de amor que ele traz estampado na cara”… E eu ficando mais excitado com o corpo daquela mulher, a cabeça meio caída de bebedeira e vergonha, mas erguia o olhar e dava de cara com o rosto daquele sertanejo seco e pardo me trazendo a realidade e a censura, caso que o matuto entendeu outra coisa e mexendo em suas coisas genitais sacou aquela mangueira escura e mole e: “Os caras pagam, eu tenho que comer”; e eu: “Muitos?”; e ele: “Vixe! Quase todos e tem que comer que eles pagam”; e eu: “Fique com Deus”. Ele se afasta, eu arranco confuso… Fumo pra tu notar, assim como ponho reparo na arvorezinha afoita que dança pro vento. Fraquejo diante de tudo que desejas, como quem está no fundo da multidão dos homens que preenchem tuas expectativas. Como um menino buscando, na multidão, olhar pelo meio das pernas dos adultos, fico vendo os homens que, como crianças, brincaram no meio de tuas pernas. Te fazendo rir como tu não quiseste que eu fizesse. Mudando tua cara, teu riso, teu olhar e tua temperatura. De um jeito que, em desespero, não pude… Enquanto prestavas atenção em outras coisas ao teu redor, perdeste o tempo de me conhecer, exato como sou. Pela primeira vez, ao espelho, olhei-me com humildade, entendi minha passagem mediana por aqui. Toda uma vida para me ver como não me vejo… Madrugada. Paro no primeiro orelhão e ligo pra minha ex-mulher e, como sempre, atende a secretária e ela sempre não está e onde estará? Numa festa? Deprimo um pouco e sinto a cabeça pesar e o estômago embrulhar e o gosto ruim. Desligo e vou, rádio desligado, pela vicinal que liga a cidade ao distrito rural onde moro e onde sei que, ao acordar, a zoeira das cigarras apagará esta dor, deixando-me nostálgico de algo infantil, um medo, um estado de espírito, um mau humor, um ódio e, como não bastasse, a solidão e os pernilongos que sugam e invadem e atormentam. E o calor. E eu, eu como sempre, tomando copos e copos de água gelada me sentirei mais agredido e só. Envelhecido e calmo. Vazio, como há quarenta anos não me sentia…

quinta-feira, 9 de julho de 2009

DE CÃES, HOMENS E VERMES


Tenho “saudades” de Maluf. O político corrupto ficou famoso pela expressão a ele atribuída: “rouba, mas faz”. Realmente, Maluf roubava e fazia. Político experiente, grande empresário e, assim, administrador competente, não se pode negar. Tinha suas ações, em geral, voltadas para as elites e áreas nobres de São Paulo ou para megaprojetos às mesmas elites, seja como Prefeito ou Governador. Fazia… mas, roubava. Nunca pensei que chegaria o dia em que o acharia um amador, como hoje o considero, um ser folclórico, tal um Jânio, como, também, um amador foi Collor, que à época surpreendeu a todos (imagine, Collor desviou uns trocadinhos perto do que se pratica hoje, foi então mais um bode expiatório). Penso que a capacidade das elites serem cada vez mais monstruosas é um fato que faz os ladrões do passado parecerem criancinhas travessas. Tenho minha fé em Deus, mas, obviamente, nenhuma fé nos homens, que, ao longo da minha vida, em várias instâncias, me provaram serem fracos, traiçoeiros, mentirosos, oportunistas etc. etc. Muito mais inimigos do que amigos. Realmente, o ser humano, dentro dessa maravilha em que se configura nossa vida e nosso universo, hoje, a meu ver, tem menos valor do que uma planta, um animal, uma montanha. Acho, hoje, mais urgente salvar um rio do que um ser humano. Realmente não sou uma criatura politicamente correta nem tenho esta pretensão (concluí que os que têm obrigação de serem politicamente corretos, os políticos e os magistrados, em sua imensa maioria, são verdadeiros bandidos, então não me cabe dar o exemplo) e, graças a isto, posso dizer que dos muitos defeitos que tenho a hipocrisia não é um deles. Ando um pouco revoltado, confesso, com tudo isto que vemos no mundo e, especialmente, em nosso país (a gramática pede que se grafe país com “P”, mas não vou ser cínico a esse ponto). Realmente estão brincando comigo, rindo da minha cara, me roubando abertamente e me tratando como um idiota, exigindo-me infindáveis deveres e subtraindo-me direitos adquiridos sob o nome de "flexibilização" das regras, tentando me enganar com uma Constituição em tudo teórica e me ofertando, na prática, caos, injustiça e podridão social. Acho que as crianças, maravilhosas, merecem ser salvas, sim. Mas, ao atingirem a idade adulta, muito provavelmente já não farão juz a isto, estarão, em sua maioria, corrompidas como seus pais... Tenho saudades de meu cão, falecido a pouco mais de um mês, do alto de seus 16 anos e meio. Um belo cão, forte, grande, de porte nobre, cabeça erguida. Arjuna era seu nome. Tirado da mitologia hindu, Arjuna era um príncipe, um guerreiro, general dos exércitos, o maior estrategista militar e o melhor arqueiro. O nome cola às coisas e meu Arjuna também foi um príncipe e um guerreiro. Foi a criatura mais especial que conheci e convivi em mais de 40 anos de vida. Um ser pleno de amor e serenidade, alegria de viver, companheirismo e doação. Quando eu entrava num lago para remar, Arjuna mergulhava atrás; quando eu ia para as montanhas fazer trilhas de bike por horas, Arjuna corria no meu encalço por longas subidas e descidas; quando eu entrava numa roda de capoeira de rua, tinha que amarrá-lo em algum poste próximo, porque da primeira vez ele atacou; sei que se me jogasse de um abismo ele se atiraria colado em mim. Meu Deus, como é absolutamente claro que meu cão tinha um valor imensamente maior que uma infinidade de seres humanos pelo mundo afora! Meu cão morreu agonizando, não sem antes, quase sem forças, “pedir” para ficar de pé para se despedir num “abraço”. Teve que ser sacrificado, pois era extremamente forte e, por amar muito a vida e os que o amavam (especialmente meus pais, que cuidaram dele até o fim devido à minha mudança para Salvador), lutou de um modo impressionante: ainda vivo, mas já em estado de decomposição. Sua alma era ainda maior que seu corpo. Por isso o sacrifício. Ele não queria ir embora, ele deu muito à vida e a vida lhe retribuiu em muito, também. Era um bravo aquele cachorro e era um ser feliz e amoroso, que cresceu solto e rodeado de muitas e muitas pessoas. Por outro lado, me pergunto o que Sarney deu à vida, pois o que a vida lhe deu me parece muito claro. Vejo Sarney lutar agarrado à sua cadeira, vejo sua filha lutar agarrada ao poder, todos os seus parentes, agarrados, apegados, qual parasitas que são. Tenho no fundo pena dessa família e de sua mediocridade, apesar do poder material, tão patéticos que são. Mas, Sarney não será lembrado pelas qualidades nobres que meu cão possuía abundantemente. Sarney será lembrado - extraoficialmente, claro - por ser um homem fraco, oportunista, explorador de seus “iguais”, corrupto e por outros bastantes adjetivos do tipo. Inepto talvez seja algo que resuma bem a Sarney: inepto como político, inepto como escritor, inepto como homem, inepto como estadista, inepto como pai. Para mim, acompanhar a agonia de meu cão foi das coisas mais difíceis entre as muitas coisas difíceis que já passei nessa vida. Foi triste (ironicamente, Arjuna faleceu no dia do aniversário de minha mãe). Larguei meus compromissos, peguei um avião de Salvador a São Paulo porque sabia que ele me esperava para se despedir. Os cães fazem isso. Se eu não tivesse ido, provavelmente ele iria resistir mais, e mais sofrer. Se eu não tivesse estado com ele nessa passagem, provavelmente, iria passar a vida me sentindo um verme de uma espécie pior do que Sarney. Tenho fé em Deus, mas Seus caminhos são intangíveis a nós, homens comuns. Penso por que meu cão - uma criatura que em sua passagem por essa vida nunca praticou o mal, incapaz disto que era, unicamente semeou o amor - precisou sofrer para partir. Penso como seria interessante ver Sarney à beira da morte, agonizando em sua cadeira no Senado, sofrendo e definhando, apegado, vertendo pus pela boca e olhos, seu abdome, costelas e olhos afundando, com escaras e teias de aranha, todo pele e ossos, a agulha do médico não encontrando sua fina veia para o sacrifício, suas dores aumentando, seu desespero por ver que sua fortuna e posição são nada na derradeira hora, sua culpa por uma vida inútil e improdutiva perturbando sua mente, sua certeza de estar partindo rumo ao inferno, um inferno pior do que o que impôs, nas últimas décadas, à população miserável do amado Maranhão, do Amapá e do Brasil. Isso bem que poderia durar uma semana ou mais e ser transmitido em rede a todo o Brasil e ao mundo, afinal, tal qual Michael Jackson, Sarney pode ser visto como um ícone pop, também: é um produto da segunda metade do século 20, apropriou-se dos meios de comunicação de massa, criou-se com vistas à comercialização e ao consumo e suas ações são falsamente espetacularizadas e voltadas à mídia… Quanto a mim, sentado tranquilamente em minha confortável poltrona, à mão uma lata gelada, como quem saboreia uma final entre Brasil e Argentina, assistindo a esse hipotético, apoteótico e prolongado espetáculo final da morte de Sarney, como num delírio dantesco, vou torcer para que o médico não encontre a veia…

quinta-feira, 18 de junho de 2009

DA HIPOCRISIA

(Foto: A.Alves)

Que história Sarney? Respeitar sua história é o mesmo que respeitar a história de Maluf ou de Quércia ou de Roriz ou de sua filha Roseana ou de tantos pulhas que só fazem ao longo das décadas assaltar o Estado e explorar a população miserável. Sarney, em seu discurso no Senado, disse ser absurdo alguém com a história de serviços prestados ao País, como ele, ser julgado. Sarney se considera, então, acima do bem e do mal, numa espécie de caráter imperialista. Lula, em sua habilidade em não atacar aliados – ou seja, todos - tristemente afirmou: "Não li a reportagem do presidente Sarney, mas penso que ele tem história no Brasil suficiente para que não seja tratado como se fosse uma pessoa comum", disse. "Elas [denúncias] não têm fim e depois não acontece nada" (FOLHA, 17 jun. 2009). Vejamos: 1) é algo leviano opinar sobre conteúdo que não se conhece, especialmente quando a opinião é de um Presidente da República, que tem obrigações éticas mais que redobradas ao se pronunciar sobre qualquer assunto, como príncipe que é; 2) ter ou não ter história não isenta qualquer indivíduo de ser julgado pelos seus atos, presentes ou passados, ainda que somente algumas vezes culpabilizado, como bem demonstra a História; 3) realmente, Sarney não deve ser tratado como uma pessoa comum, pois não o é: deve ser tratado com o rigor que seu cargo exige, além do que uma pessoa comum em seu universo corriqueiro não tem a possibilidade nem a capacidade que Sarney tem de prejudicar a sociedade tanto e ao longo de tanto tempo. Aliás, Sarney é um caso até raro na política quanto a um tipo de longevidade: já conseguiu instaurar uma segunda geração de sua família, na figura de sua doentia filha, já longeva, perpetrando abusos, desmandos e crimes, como nenhum outro político antes fez, nem mesmo ACM; e 4) “elas”, se não têm fim, é por culpa da corrupção dos políticos; “elas”, se não têm fim, é por não serem apuradas até o fim; “elas”, se não têm fim, e nada ao final acontece, é porque quem deveria punir não cumpre com sua função; e “elas”, se não têm fim, deveriam ser ocupação prioritária de um Presidente e não objeto de descaso do mesmo. Sarney, na crise dos atos secretos, diz que a crise não é dele, a crise é do Senado, numa tentativa não muito habilidosa de se esquivar da responsabilidade ao longo dos últimos 14 anos, especialmente como presidente da casa, e de oito parentes lotados no Senado, nomeações e aumentos de salário, além do mordomo da filha pago com dinheiro do contribuinte, meu e seu. Este exemplo, o da irresponsabilidade, Sarney legou à sua prole: sua filha ao roubar o mandato de Jackson Lago, recentemente, licenciou-se para cuidar de um de seus cânceres, deixando o povo maranhense ilhado numa das maiores enchentes de sua história… Sarney, vou lhe contar outra história, que não lhe afeta nem nunca afetou, e à qual você é indiferente: vivemos em países diferentes, eu e você. Meu país é mais próximo do Maranhão do que o seu. Ou do Amapá, ou de onde quer que você seja. Vivemos num país em que os bancos nunca tiveram lucros tão exorbitantes e, no entanto, demitem, não por dificuldades financeiras, mas para manterem os lucros nos mesmos patamares estratosféricos. Vivemos, ainda, num tempo em que os homens põem sua confiança em tudo e em todos, exceto em Deus, até num pequenino e rústico tubinho colocado na barriga de um portentoso avião, e por isso morrem. Ou seja, vivemos no tempo do caos, da ganância escancarada, um tempo em que na verdade a exploração humana faz parte de um passado romântico, pois hoje o homem é licenciosamente sugado, corrompido, triturado sobremaneira. Em nosso país, Sarney, vivemos um tempo que as palavras não expressam, mas que nem por isso deixa de ser captado, visto, percebido. Um tempo dos grandes hipócritas, que têm uma das mais expressivas representações na figura de vossa excelência…

quinta-feira, 14 de maio de 2009

DE QUANDO QUEM DEVERIA DETER O CONHECIMENTO PERPETUA A IGNORÂNCIA

(Foto: www.codedblog.wordpress.com)

Se há uma palavra em nossa língua que não comporta plural essa palavra é raça. Não há, desde o princípio da humanidade, nem nunca houve raças. Consequentemente, não há o termo raças, unicamente raça. Na verdade, a única diferença que pode nos unir é a cultural – hábitos de vida e costumes - ademais é a fantástica diversidade humana. O Projeto Genoma Humano desfez definitivamente este equívoco, quando de sua conclusão em 2003, demonstrando, após seu mapeamento, que o DNA humano é um só (99,99% idêntico), ou seja, existe apenas a raça humana. Ademais, o que há são etnias. Etnia é o termo correto para a denominação, ainda hoje, usada de modo estranho e equivocado por acadêmicos, jornalistas, governantes, políticos etc. para raça. Para as outras pessoas, estabelecer este engano é perdoável. Impressionante é o fato de tantos líderes e formadores de opinião, homens que deveriam orientar corretamente, permanecerem numa discussão que parte de uma premissa falsa. Falar em raça, hoje, só pode ser justificado em termos metafóricos ou numa abordagem, quando muito, com algum cunho “filosófico”. Mas, erroneamente, o termo e - pior - seu conceito são tomados em falso sentido estrito. Definitivamente, segundo a Ciência, há que se falar em etnias, e a diferença é crucial, e não apenas semântica. Quem discrimina seu semelhante pela cor da pele, sabemos que, legalmente, é racista. Discriminar não comporta apenas via negativa, mas, positiva também. Discriminar é separar, diferenciar, distinguir. A confusão que se faz é que se eu diferencio um “negro” eu sou racista, mas o que não se aponta é que se eu levanto uma bandeira por ser “negro”, por exemplo, sou igualmente racista, estou estabelecendo diferença. Estou separando, segregando, delimitando ideologicamente. Neste aspecto, a lei não está sendo interpretada nem aplicada igualitariamente na sociedade. É o mesmo crime. Há que se falar, neste caso, em racismo contra o dito “branco”. Na Bahia, por exemplo, esse tipo de racismo é fartamente praticado. Em Salvador, o dito “movimento negro” é uma falácia, não passa de um rótulo, uma marca. Não é um movimento social em sentido estrito como o é o MST, por exemplo. “Movimento negro” não passa de algumas ONG’s com uma cúpula total de algumas dezenas de caciques, no máximo poucas centenas, manobrando uma massa de simpatizantes de, talvez, poucos milhares de pessoas, que pontuam datas históricas e eventos culturais – apoiados por políticos e artistas “negros” imbuídos dos mesmos pequenos interesses midiáticos e políticos. Essa pequena cúpula é racista e rancorosa e multiplicadora destes sentimentos. Olha para trás e não para frente. Não quer acabar com um contexto generalizado de pobreza e injustiça social. Quer vingança por um contexto passado. Quer que o “negro” tenha “compensações”. Mais que isso, esta cúpula quer se dar bem financeira e politicamente. O “branco” pobre que se lixe. É rápida em defender que o “negro” foi usado no passado, mas lenta em assumir que alguns de seus membros usam hipocritamente seu semelhante no presente sempre que há uma oportunidade para tanto, seja pela exploração sexual, do trabalho ou econômica. Não possui um sentido de unidade nacional. Não agrega a questão, por exemplo, do índio brasileiro, talvez tão ou mais espoliado e injustiçado aqui que o próprio escravo “negro”, ou mesmo do próprio nordestino. A escravidão era uma sociedade mercantil entre europeus e africanos, estes fratricidas então. Basta ler alguns dos maiores estudiosos da área para se ter acesso a tais informações, como João José Reis ou o meu caro amigo Carlos Eugenio Líbano Soares, professores da Faculdade de História da UFBA. A escravidão era fenômeno cultural na África, praticada muito antes da chegada do português. Inúmeras tribos africanas digladiavam-se, escravizando-se entre si. Irmão escravizando irmão. O português tornou-se sócio desta riquíssima empresa já plenamente instaurada de antemão. Tanto que expedições ao interior da África não eram comuns, por serem mais caras, demoradas, logisticamente complexas e arriscadas. O tráfico se dava principalmente no litoral em entrepostos farta e previamente abastecidos de “negros”… por “negros”. Depósitos a beiramar na Costa dos Escravos africana em comunicação com depósitos a beiramar na Bahia. O maior mercador de escravos do mundo no início do século 19, Chachá de Ajudá, era baiano e mestiço e possuía uma fortuna estimada em US$120 milhões, um absurdo à época. O “branco” não foi, como se pensa, um demônio usurpador de anjos negros. O “negro” já era seu próprio demônio e àquele tempo, como hoje em dia, os homens, de qualquer etnia, careciam de caráter, humanidade e fraternidade, e sobejavam ganância, corrupção e barbárie. Se hoje vivemos um capitalismo selvagem, naquela época um mercantilismo selvagem cuidava de perpetuar por dinheiro abominações com a vida humana tais como vemos hoje. Ex-escravos urbanos de ganho no Brasil compravam escravos; têm-se notícia mesmo de casos, como de um homem “branco” de olhos azuis que chegou a ficar acorrentado mais de um dia numa praça do Rio de Janeiro exposto à venda. Essa visão purista, maniqueísta e romântica do “negro” só faz perpetuar injustiças, e o dito “movimento negro” conscientemente se apropria desta distorção e, espertamente, vem capitalizando (no sentido figurado e no literal) este equívoco histórico, com a anuência de desavisados simpatizantes de fora da etnia. Carrega um extremismo, uma ignorância e uma amargura similares aos que moveram uma face doentia do feminismo da década de 1960, movimento que obteve conquistas justas ao lado de supostos “ganhos” para a mulher à custa de perdas nítidas hoje para todos. Mas o feminismo, ao menos, era um legítimo movimento. O que o negro escravo passou no Brasil foi uma barbaridade, sem dúvida. Mas isto já passou. Mais importante, hoje, é olhar o trabalho escravo que se pratica fartamente nos latifúndios brasileiros, ao invés de chorar o leite derramado de um passado escravista, que é constantemente objeto de manipulação de certo sentimento de culpa por parte da nossa sociedade nos dias atuais. A discussão das cotas raciais para as universidades públicas passa por esta questão. Melhor seria, como muitos defendem, estas cotas serem sociais ao invés de raciais. O racial da questão levanta a atenção para um falsa diferença, e coloca membros de uma mesma coletividade uns contra os outros ao separá-los. Cotas raciais acirram o sentido nefasto de “raças” e dividem dentro de um mesmo contexto, criando opostos. Cotas sociais integram, igualizam. A cota social integraria todas as etnias pela questão econômica e, nisso, os “negros” seriam de modo indireto majoritariamente incluídos, resolvendo-se-lhes o problema. As “lideranças negras” não querem a cota social, pois esta anula o caráter identitário de sua reivindicação, prova de que a vontade não é de solucionar o problema, mas de capitalizar política e midiaticamente os desdobramentos da questão. A propósito, já está mais do que na hora da lei mudar o termo racismo para antietnicidade, ou algo que o defina corretamente para ajudar a acabar com estas distorções em sua raiz.

terça-feira, 21 de abril de 2009

"VEJA": TOTALMENTE DISPENSÁVEL

(Foto: Erick_1968)

Leio uma matéria de Veja (edição 2109), assinada por Ronaldo Soares, sobre a, no mínimo, polêmica construção de muros ao redor de favelas no Rio de Janeiro pelo Governo estadual. O jornalista lá pelas tantas diz que “Pode ser o sinal de que, finalmente, o poder público resolveu deixar a demagogia de lado e combater com seriedade o processo de favelização”. O grifo é meu… Vou fazer uma pausa... Vou ali pegar um café... [Foco em outro Ronaldo, o fenômeno: participou da jogada que gerou o primeiro gol da semifinal contra o São Paulo e marcou o segundo duma belíssima arrancada, digna de quem de forma alguma está fora de forma!]. Voltemos ao tal Ronaldo do texto… Café amargo… duro de engolir. Vejamos: ele crê que um muro tem o poder de conter o processo de favelização (dentro deste raciocínio brilhante, por que então não murar o Brasil para combater a entrada de armas e drogas?). Ufano, defende que o muro é um “marco histórico”. Realmente, muro é marco, demarcação, e uma demarcação serve para separar, distinguir. Histórico também o é, pois a história está impregnada dessas iniciativas lamentáveis: Berlim, Palestina, Coréia, Auschvitz, etc.; e, deve-se aprender com a história, todos partitivos. Muro é para segregar. Quando não há consenso, quando não há Justiça, quando não há diálogo, união ou partilha, muros são erguidos. Muros na alma antes de muros concretos. No caso do Rio, o muro serve unicamente para desviar o olhar sobre uma realidade incômoda para quem está confortavelmente dentro da sociedade, como concorda o espanhol El País. É a concretização do apartheid que, de fato, vivemos. Contudo, sem dificuldades, a favela vai “pular” o tal muro de três metros. Favela é como água, não pode ser contida com muro. Não se pode reprimir nem suas mazelas, nem sua vibrante cultura, nem sua vida pulsante, que não se encontra em nenhum condomínio de luxo. Favelas são formadas por pessoas safas (em todas as acepções do termo), que estão acostumadas à guerra diária e a driblar obstáculos de toda natureza num cotidiano penoso, que o moço do artigo definitivamente não conhece, nem na teoria como demonstra, nem na prática como se subentende (talvez tenha sido, como se diz, um menino amarelo criado em apartamento pela avó). Ronaldo Soares pensa que as pessoas são faveladas por opção e não, pelo contrário, por falta de opção. Provavelmente, nunca visitou uma favela para saber que, sob muitos aspectos, só um masoquista optaria por morar em uma, tendo disponíveis outras escolhas. Quer dizer, o sujeito constrói um barraco porque não tem dinheiro para o aluguel, e constrói na favela porque não tem opção de lugar e porque há pares: óbvio ululante. Ninguém tem como projeto de vida morar pendurado em barranco. Murar uma favela, evidente, não é combater o problema com seriedade como quer com simplismo o rapaz de Veja. Combatê-lo com seriedade seria gerar empregos e moradias populares; proporcionar crédito; criar salas de aula, áreas de esporte e lazer, espaços culturais e postos de saúde; acabar com o tráfico de armas e drogas; melhorar o nível da polícia em todos os aspectos; acabar com o desvio de verba pública por políticos e empresários corruptos; acabar com a sonegação fiscal; etc. etc. Veja - que já foi, há muito, uma revista semanal combativa de alto nível - realmente atingiu o fundo do poço com um time à altura, e com matérias superficiais, tendenciosas e reacionárias. A falta de profundidade e amplitude analítica do mentor do “texto” de Veja é espantosa, para não dizer hilária. O próprio rapaz lida com argumentos contraditórios em seu testículo; ou melhor, inocentemente, não consegue ter um olhar crítico sobre o objeto de sua pauta. Reporta ele: “Os que são contrários à idéia lembram que as favelas, principalmente as da Zona Sul, crescem pouco para os lados. A maior expansão dá-se verticalmente - há edifícios de mais de 10 pavimentos em algumas delas. As que foram selecionadas para o projeto realmente aumentaram muito pouco sua área. Avançaram apenas 1,18% entre 1999 e 2008, segundo o Instituto Pereira Passos (IPP), ligado à prefeitura do Rio”. Tiro no pé: a munição que Soares toma dos opositores à idéia do muro - que defende - não serve como contraponto, apenas ilumina a fragilidade de sua própria tese, demonstrando por um órgão ligado à própria prefeitura que a expansão é irrisória (pouco mais de 1% em uma década!?), donde se conclui que o intuito do muro não é conter avanços, mas separar (bom, já que crescem verticalmente, mais eficaz, creio, não seria murar, mas, sim, tampar!). Ingenuamente, numa linha torta de raciocínio, o jornalista não percebe debaixo de seu nariz que o argumento contrário à murada denuncia a inconsistência do objetivo oficialmente proclamado: a contenção dos barracos. Outra afirmação estapafúrdia é que os barracos seriam prejuízo para a imagem do Rio. Ronaldo entende que para não estragar sua bucólica paisagem carioca deva-se jogar a sujeira debaixo do tapete. Ou, melhor, para trás do muro. Prejuízo real à imagem é o que os barracos simbolizam: desigualdade feroz e injustiça social gritante. O rapaz do artigo promove, então, uma inversão de valores em sua análise: negativo para o Rio não é a imagem dos barracos, mas seu conteúdo, o que lhe é imanente, fruto de um sistema social nefasto; ou, negativo é o estado de coisas que marginaliza pessoas, cidadãos, trabalhadores, tornando-os, por um lado, reféns do crime nas favelas, e, por outro, órfãos de um Estado demagógico, corrupto e inapto (Estado forjado por cidadãos desejados na hora do voto, cidadãos que alçam essa corja de vagabundos ao poder, o mesmo poder que depois os descarta sumariamente). Sem contar que o dito escritor toma causa por efeito: favela é efeito, não causa. As causas do problema (que deveriam efetivamente ser contidas) são a desigualdade social, o sistema injusto, o capitalismo voraz, a ganância das elites, a corrupção e a manutenção do status quo. Políticas sérias, sabe-se, deveriam atacar causas estruturais, ao mesmo tempo em que, paralelamente, minimizariam temporariamente os efeitos com programas sociais igualmente sérios. Na lógica do Ronaldo, por exemplo, Bolsa Família seria um programa para erradicar a miséria, e não o paliativo emergencial que pretende ou diz ser. Além da falta de consistência em suas proposições, o autor de Veja comete um erro grosseiro e outra deselegância. Tecnicamente, falha ao afirmar que há 1000 favelas no Rio de Janeiro: são, na verdade, em torno de 700, e o problema é mais grave em São Paulo, que tem 2100, o triplo! No campo da reverência a quem se deve, Ronaldo (que não é nenhum fenômeno) erra feio ao chamar de “palpiteiro de plantão” ninguém menos que o escritor português José Saramago, notoriamente um progressista consistente, que apontou corretamente o “viés ideológico” do projeto, adequadamente comparando-o em seu blog com os muros de Berlim e da Palestina. Saramago (Prêmio Nobel de Literatura e o mais importante escritor vivo de língua portuguesa no mundo!) deveria ser mais respeitado e mesmo mais lido por esse Soares, que viria a aprender muito (provavelmente nunca o suficiente para atingir o nível de um Nobel, mas, com certeza, algo para lapidar pouco mais sua insipiente escrita). A propósito, no bojo do que seria esta seriíssima proposta para a contenção de problemas crônicos, e uma vez que iniciativas acertadas devem ser aplicadas em outros setores da sociedade, por que então não murar Daniel Dantas; Eliana Tranchesi; José Sarney; Gilmar Mendes; Michel Temer; Roseana Sarney; os ministros do TSE, que roubaram o mandato de Jackson Lago para Roseana; todos os deputados que fazem a farra dos vôos com dinheiro público; etc. etc. etc.? Dessa forma, a corrupção, a canalhice, a falta de caráter, a roubalheira, a exploração, o enriquecimento ilícito e tantas outras podridões nacionais estariam devidamente sepultadas junto com as indesejáveis favelas… Mas, não vamos ser perdulários, que os tempos não nos permitem: uma área de 3m3 para cada um deles é mais que suficiente, até para exercitarem-se, com uma abertura para respiro, outra para alimentação, outra para defecação e uma tampa transparente para incidência dos raios solares…

segunda-feira, 6 de abril de 2009

DESPRENDIDA APESAR DE SÓRDIDA LADRA USUAL - DASLU

(Foto: hique)

Tranchesi e sua quadrilha foram condenados, em primeira instância, por fraude em importações, formação de quadrilha e falsidade ideológica e descaminho tentado e consumado (importar ou exportar mercadoria lícita sem os devidos pagamentos de impostos). Eu tenho algumas dúvidas. Muitas, na verdade. Por exemplo, me pergunto quantos presidiários adoentados não têm acesso a um sistema de saúde? Quantas escolas, creches, hospitais, delegacias, postos de saúde, sistemas de transporte, sistemas de saneamento básico, espaços de lazer, universidades, casas populares, estradas, portos, aeroportos etc. etc. etc. seriam construídos com o bilhão de reais sonegado pela meliante da Daslu? Que caráter tem alguém que declara 12 reais por uma mercadoria comprada a dois mil reais? Quantos presos condenados a uma pena tão alta quanto a desta senhora no Brasil são imediatamente soltos e baseado em quê? Quantas autoridades o dinheiro dessa criminosa comprou para esta soltura gratuita após a legítima condenação por uma juíza? A grande mídia, clara e igualmente comprada e silenciada, não tem dado o devido destaque a este relaxamento da prisão da escroque chique e sua quadrilha. Se, por acaso, o casal Nardoni, preso preventivamente, fosse solto por habeas corpus imediatamente o que a opinião pública diria? Diferente de Tranchesi, condenada, o casal Nardoni ainda nem foi a julgamento. O casal já teve negados mais de dez pedidos para responder o processo em liberdade e a alegação às negativas é de que representariam perigo à sociedade. Tranchesi, reincidente, com poder econômico, social e, sem dúvida, político, não representaria perigo de continuidade criminosa por sonegação, podendo prosseguir a roubar, indiretamente, da comunidade? O Ministério Público crê que sim. “Na avaliação do MPF, a sentença da juíza da 2ª Vara Federal de Guarulhos, Maria Isabel do Prado, imputa o reconhecimento da existência de uma organização criminosa e a reiteração dos crimes já cometidos, o que impede o recurso em liberdade. Somados todos os crimes, a pena de Tranchesi chega a 94,5 anos de prisão”. Segundo o MPF, “essa quadrilha atuava de forma muito confiante pelo poder social e político que tinha. Segundo o procurador do Ministério Público Federal de São Paulo, Matheus Baraldi Magnani, os acusados cometeram no Porto de Itajaí o mesmo crime de descaminho (fraude em importações) cometido no Aeroporto de Guarulhos, enquanto respondiam o processo em liberdade. Com isso, incorreram em reiteração de prática criminosa: o grande motivo da recusa dos habeas corpus é a questão da organização criminosa, pois a lei traz imputações severas a este crime e o principal deles é não recorrer em liberdade. Na avaliação do procurador, a Operação Narciso atingiu o seu objetivo, pois quando foi deflagrada, em 2005, se falou em exagero, a atuação das autoridades foi questionada e não se acreditava em uma condenação, ‘mas o MPF federal estava confortável e amparado em um mar de provas, principalmente pela boa atuação da Receita Federal’. Ele disse também que a atuação da juíza foi louvável. ‘Organização criminosa não é só coisa de desgraçado com fuzil na mão, rico também integra organização criminosa’. Ele voltou a afirmar que as penas dos réus são bastante severas porque ‘eles não precisavam disso e foram motivados por cobiça’”. No entanto, no mesmo dia dessa declaração, a prisão da empresária, do irmão dela e de mais cinco bandidos da quadrilha foi revogada pelo ministro Og Fernandes, do Superior Tribunal de Justiça, e pelo desembargador federal Luiz Stefanini, do Tribunal Regional Federal da 3ª Região. Sonegar um bilhão de reais sonega benefícios públicos para incontáveis crianças, idosos e necessitados, tanto quanto o nefasto tráfico de drogas sonega em vida, saúde e sanidade às pessoas e famílias. Em suma, esta mulher é uma criminosa da pior espécie, a espécie que não leva em conta seu semelhante, apenas seu luxo, prazer e mordomia, achando que a vida é um belo passeio particular de primeira classe. Esta mulher deve, então, permanecer presa, pois já provou por ser reincidente que representa perigo à sociedade, não justificando o recurso do habeas corpus. Mas, com absoluta certeza, isto não irá acontecer, nem está acontecendo, pois ela já “molhou a mão” de muita gente graúda e sem caráter deste país. Onde estará agora o paladino da ética, Gilmar Mendes, para bravatear contra isto, como sempre costuma fazer em outros casos? Onde está agora Daniel Dantas? “De acordo com a defesa, a juíza se contradiz ao citar Eliana Tranchesi como delinquente contumaz e, mais adiante, na mesma sentença, ressalta que Eliana não possui antecedentes criminais e que a defesa irá rebater as tortuosas conclusões da sentença, de modo a afastar a injusta e nefasta condenação que lhe foi imposta". Como não delinquente? Como não contumaz se é reincidente? Como condenação injusta pela sonegação de um bilhão de reais em impostos? A Justiça considerou o grupo "uma quadrilha que cometeu crimes financeiros de forma habitual e recorrente, mesmo após a denúncia do Ministério Público Federal. O grupo foi desmontado em 2005, após operação da Polícia Federal e Receita. Apesar da condenação, no Brasil, ninguém pode permanecer preso por mais de 30 anos. Nas 500 páginas da sentença, a juíza Maria Isabel do Prado destacou que houve ‘ganância’ e que Tranchesi ‘demonstrou ter personalidade integralmente voltada para o crime’. Em sua decisão, a juíza menciona que a ‘organização criminosa’ também deve ser presa por ter ‘conexões no estrangeiro’ e que ‘os acusados praticaram crimes de forma habitual, como verdadeiro modo de vida, ou seja, são literalmente profissionais do crime’. Além disso, Magnani citou o fato de os crimes continuarem sendo cometidos em outros locais, mesmo após descobertos”...

(Crédito de citações: Agência Estado)

quarta-feira, 1 de abril de 2009

DE NOVO, O MANGABEIRA...


Mangabeira reuniu-se com deputados nordestinos a propor a transformação do Nordeste numa China brasileira! O Nordeste é a nossa China. Pode ser a nossa China no mau sentido ou no bom sentido. Será a nossa China no mau sentido se for apenas um manancial de trabalho barato. Será a nossa China no bom sentido se virar uma grande fábrica de engenho e de inovação. Eu, se fosse um deputado federal, pegaria pesado com esse menino, o Unger, por me fazer perder o meu tempo com conversinhas. Eu, na qualidade de um cidadão comum, já lhe diria umas boas. Esse rapaz é um poço de retórica vazia e generalidades. Qual será, efetivamente, o trabalho que ele realiza num ministério em tudo patético, para justificar seus proventos? Bom, para um ministério patético, um ministro patético... Em tempos de crise mundial gravíssima, um ministro, auxiliar do executivo, ao invés de trazer projetos concretos a serem implantados, defende que o Nordeste vire “uma grande fábrica de engenho e inovação”. O que seria isto, concretamente? Ao que eu saiba, devaneios argumentativos cabem - no máximo e com limites - às casas parlamentares, como o próprio nome indica, Congresso Nacional e câmaras de vereadores. Ministros são empossados para a ação, direcionada pelo Presidente, para trazerem soluções a problemas detectados, estabelecerem prioridades e campos de ação e gerirem orçamentos e recusos humanos. Mangabeira, porém, não disse qual será exatamente a sua proposta [ele não tem uma!], preferindo falar apenas dos princípios de ação. O primeiro deles, afirmou, é construir o ideário abrangente, entendido como uma causa nacional. Além disso, defendeu a organização de uma campanha que ajude a levar o Nordeste para o centro do debate. Vejamos: “ideário abrangente”; “causa nacional”; “levar o Nordeste para o centro do debate”... É uma tal de Secretaria Especial de Assuntos Estratégicos que este moço dirige. Não seria mais apropriado um Ministério do Clichê? Até o deputado Julio Cesar, do Piauí, reagiu: Isso tudo é muito teórico. Se não houver uma lei específica determinando o cumprimento de medidas, o projeto não sairá da retórica. O projeto está no campo das idéias. O Nordeste não precisa de idéias, precisa de ações. Como "medida prática", Mangabeira propôs aos parlamentares a criação de uma nova escola média, que combine o ensino geral de orientação analítica e capacitadora e um novo tipo de ensino técnico, que substitua a aprendizagem de ofícios rígidos pelo domínio de capacitações práticas flexíveis e genéricas. Esta, também, é uma idéia originalíssima e que vem dando resultados fabulosos por onde quer que tenha sido implantada. Unger também defendeu mais blablablá: 1) a concorrência cooperativa entre as empresas, sob uma coordenação estratégica dos governos estaduais; 2) definiu ainda como indispensáveis grandes projetos industriais, como de siderúrgicas e refinarias de petróleo, mas desde que sejam executados com o objetivo de transformar a vida econômica e social do local em que são construídos; e 3) defendeu, também, a injeção de recursos nacionais na região. Vejamos: “concorrência cooperativa entre empresas” (alguém ensine a este ministro que, no capitalismo, cooperação e concorrência são antagônicas e autoexcludentes, por favor); outra pérola: “transformar a vida econômica e social do local em que são construídos” (que coisa bonita!). Finalmente, em grande estilo: "Não se organiza o Nordeste sem a transferência de recursos nacionais para o Nordeste, mas o mais importante é que haja um projeto"... Isso garoto! Você entendeu! É preciso um P-R-O-J-E-T-O, e para elaborar projetos factíveis, a partir de análises conjunturais realistas (dados técnicos, vocação regional, aspectos geográficos, sociais, econômicos e culturais etc.) é que você é pago com nossos impostos...
(Crédito de citações: Agencia Estado - 1/4/2009)

MULHERES! ABORTEM RUMO A UM FUTURO MAIS CONFORTÁVEL!

(Foto: Jaime Arrau)

Dilma Roussef defende a legalização do aborto. “Abortar não é fácil para mulher alguma. Duvido que alguém se sinta confortável em fazer um aborto. Agora, isso não pode ser justificativa para que não haja a legalização", argumentou. Dentro desta lógica brilhante, me sinto no direito de defender algumas similaridades: 1) usar drogas não é fácil para qualquer pessoa. Duvido que alguém se sinta confortável em destruir sua vida. Agora, isso não pode ser justificativa para que não haja a legalização da droga; 2) matar não é fácil para qualquer pessoa. Duvido que alguém mesmo motivado para tanto se sinta confortável em destruir a vida alheia. Agora, isso não pode ser justificativa para que não haja a legalização do homicídio; e 3) estuprar não é fácil para qualquer um. Duvido que alguém se sinta confortável em causar uma morte psicológica dessas a qualquer pessoa. Agora, isso não pode ser justificativa para que não haja a legalização do estupro… O aborto é um assassinato em nome da promiscuidade que impera em nossa sociedade, hoje. Nem é um caso de falta de educação a que se alude, pois mulheres educadas e da elite intelectual e econômica engravidam tanto quanto mulheres desinformadas. Além do que, deixemos de hipocrisia, é óbvio que qualquer mulher, por mais ignorante e desinformada que seja, sabe para que serve uma camisinha. Sabe-se, ainda, que a mulher não é o agente ativo da gravidez, e sim o feto. Ou seja, a prioridade é o feto e não a mulher. A ministra afirma, com toda sua profundidade analítica: "O aborto é uma questão de saúde pública. Há uma quantidade enorme de mulheres brasileiras que morre porque tenta abortar em condições precárias". Aqui, Dilma mostra total falta de ética ao tentar justificar um erro por outro, além de caracterizar uma inversão de valores, tão comum nos dias de hoje: mulheres não morrem por praticarem aborto em condições precárias; mulheres morrem por não serem responsáveis pelos seus atos, morrem por praticarem promiscuidade, morrem por não respeitarem seus corpos e suas vidas. As mulheres a favor do aborto alegam serem donas de seus corpos. Não são. Não somos. Nossos corpos e nossas vidas são dádivas, a que devemos cuidar com sabedoria. Se você acha isso retórica vazia, vá olhar de perto um viciado em crack e depois me diga se você vislumbra ali o dono da vida perdida. Ou considera-se que não temos qualquer responsabilidade espiritual? Somos carne que pratica o sexo e produz, eventualmente, um embrião acidental passível de exclusão? Então, vamos parar com a encenação e assumir a barbárie institucionalizada. Da mesma forma, não sou dono do meu corpo para me drogar. Se a mulher é dona de seu corpo para a fornicação, por que não sou dono de meu corpo para introduzir drogas em mim? Então, dona Dilma, se chegar ao Planalto, permita que eu me drogue e morra à minha vontade. Dilma também afirmou que acredita em Deus, outra questão sensível entre os eleitores brasileiros. "Fui batizada na Igreja Católica, mas não pratico. Mas, olha, balançou o avião, a gente faz uma rezinha", disse, sorrindo, “amarelamente”. Que lamentável essa visão de Deus da ministra: se o avião balança ela faz uma rezinha. Seu vínculo com Deus se resume, pobremente, a uma rezinha de avião. As católicas, na questão do aborto, pedem o direito de decidir. Se fossem verdadeiramente cristãs, pediriam sabedoria e força para seguirem a Deus e não às suas - como as nossas - limitadíssimas consciências. A sociedade pede solidariedade às mulheres ameaçadas de prisão por abortarem. E quanto à solidariedade às vozes mudas de vidas assassinadas, quem pede? Certa vez assisti a uma entrevista na TV de uma mulher com sua filha ao lado, fruto de estupro de desconhecido e já adolescente. O amor e união demonstrados uma pela outra era tocante. A mulher testemunhava que seu tesouro em vida era sua filha, a qual não foi abortada, isso nem tendo sido cogitado pela mãe, repito, em uma gestação causada por estupro de desconhecido na rua! Ou seja, foi uma besta que fecundou esta mulher, mas ela não deu as costas à vida. Esta mulher, sim, acredita em Deus, dona ministra. A vida lhe deu um percalço, o estupro, e ela transmutou este ato vil em coragem, abnegação e amor a si e ao próximo. Isso não é pouco, dona Dilma. Eu também creio em Deus, e, do meu lado, rezarei fervorosamente para uma mulher com suas “qualidades” não vir a presidir meu País: uma mulher que crê no aborto e vive, a cada discurso que profere, exaltando formas de tortura pelas quais, supostamente, passou, como passaporte para certa credibilidade não me demonstra otimismo e fé, mas pessimismo e rancor, que não são qualidades de um estadista verdadeiro: "Tomei choques em várias partes do corpo, inclusive nos bicos dos seios. Tive até hemorragia. Depois de apanhar, era jogada nua em um banheiro, suja de urina e fezes". Certo Dilma, nós já sabemos exaustivamente disso. Está na hora de você virar esta página e perdoar, se almeja comandar um país olhando para frente, uma vez que a história nos mostra a herança de estadistas amargurados: Hitler, Idi Amin Dada, Stalin, Bush etc. Não, obrigado!... Em 28 de março último, em São Paulo, quatro mil pessoas se reuniram em ato público contra o aborto na Praça da Sé. Dilma quer ser Presidente. É um produto criado e lapidado por Lula, gênio político, seja isso positivo ou negativo para o Brasil. Dilma, muito menos experiente e gabaritada do que “n” postulantes ao cargo, deslumbrou-se com a idéia do chefe e só tem a possibilidade, hoje, de estar lutando pelo seu sonho político porque um dia sua mamãe não decidiu abortá-la: trocou suas fraldas, aturou seu choro na madrugada e deu-lhe uma educação cara e elitista. Quanto a mim, não quero um País de dilmas, nem de mulheres perdidas a gerarem vida morta. Espero um país de mulheres dignas, à altura de merecerem a igualdade que tanto pleiteiam.

(Crédito de citações: Fernando Exman)

sexta-feira, 27 de março de 2009

O DELEGADO E A CADELA.

(Foto: Renato Souza)

O que significa Abin? Associação Brasileira de Inteligência. Mas, dado nosso contexto, talvez o judiciário e o legislativo sugiram que se chame Associação da Burrice Interna ou Associação da Bestialidade Institucionalizada, talvez; e PF? Polícia Federal ou - pelos mesmo motivos - quiçá Possibilidade de Favorecimento ou ainda Paraíso das Falcatruas etc., uma vez que debate-se que órgãos ligados à investigação pública a nível Federal não poderiam compartilhar dados. É piada isso ou é factível? Seria mais ou menos o mesmo que, dentro de um time, o zagueiro não poder passar a bola ao atacante? Seria isso para tornar o jogo investigativo mais instigante ou para dar tempo aos bandidos fugirem ou se precaverem? Como quando Michael Moore - em seu premiado documentário Fahrenheit 9/11 - denunciou as ligações econômicas da família Bin Laden com os Bush, pai e filho, e tendo este último fretado um avião de carreira para a fugida de 24 parentes de Osama Bin Laden residentes nos EUA, 24 horas após o 11 de Setembro! Realmente, o Brasil ainda teima em jogar contra o Brasil. Será que o Delegado Protógenes Queiróz estaria sendo perseguido por políticos e magistrados por ter inconvenientemente prendido um dos - senão o maior dos - empresários do Brasil? Dantas, como é sabido, tem seus muitos braços em todas as instâncias públicas do País. E isto, obviamente, não é gratuito. Ou alguém em sã consciência pensa que é? Então, importunar Dantas, consequentemente, importuna toda uma cadeia corruptiva, falando o português claro, sem eufemismos. Ou seja, até a Velhinha de Taubaté sabe que Dantas é, há décadas, um corrupto notório. Alguém se lembra de que Dantas era dos mais próximos a Collor na presidência, tendo sido, inclusive, cotado para o Ministério da Fazenda? Além de ser ligado a outros corruptos nas esferas municipal, estadual e federal do executivo, legislativo e judiciário, detém conexões espúrias na esfera privada, e não só no Brasil, óbvio, tendo, também, na figura do mais alto magistrado brasileiro seu principal escudeiro. Esse Gilmar Mendes declarou que a prisão de Dantas foi para desmoralizar o STF! Quer dizer, muita gente graúda teria e têm interesse em se opor ao delegado federal tornado bode expiatório. Protógenes, precavido, entrou com um pedido de habeas corpus preventivo no STF. Associado a isso tudo temos que, efetivamente, no Brasil, a imprensa é um quarto poder. Veja, por triste exemplo, já foi indispensável, um ícone passado do jornalismo ético e responsável e competente. Hoje, é um lamentável folhetim sensacionalista, reacionário e com um time carente de estrelas. Veja é preconceituosamente contra Lula, contra Chávez, contra qualquer tentativa de esquerda, contra o MST, contra Protógenes, contra De Sanctis, contra a Educação e totalmente a favor do status quo. O pior é que parlamentares baseiam suas ações, por vezes, não em investigações sérias, mas em manipulação jornalística de quinta categoria, como no caso de Veja com Protógenes. Quer dizer, Veja virou instância jurídica, ao que parece… Mas, por falar em caráter e escrúpulos, há pouco tempo, um recém-nascido foi salvo por uma cadela após ter sido abandonado em um lote na cidade de Santo Antônio do Monte, Minas Gerais. Xuxa, a cadela, encontrou e arrastou até a calçada a caixa de papelão em que o bebê estava. O menino foi encontrado sujo de sangue e ainda com o cordão umbilical. A dona da cadela, Maria Luzia, acordou com os latidos do animal. Estranhando o comportamento de Xuxa, a mulher decidiu abrir o portão. A cadela saiu em disparada, atravessou a rua e entrou no lote, de onde saiu puxando pela boca e empurrando com o focinho a caixa de papelão. A ação da cadela foi providencial para a sobrevivência do bebê. "A gente não sabe quanto tempo a criança ficou lá no sereno. Estava bem frio aqui e se não fosse a cadela, não tínhamos achado naquela hora e ela podia não ter sobrevivido". Maria Luzia contou que só quando chegou perto da caixa de papelão conseguiu escutar o choro do recém-nascido… Eu tenho um cachorro. É um ser especial, pleno de amor e iluminado. Sem dúvida, se preciso, sei que ele daria sua vida por mim ou por meus familiares. E ainda dizem que os animais não têm alma. Quem convive com um ser assim sabe bem o quanto eles têm verdadeiramente uma alma, e muito mais valor que muito humano de terno, diploma ou toga.

NOVO ACORDO ORTOGRÁFICO

Depois de prefixo, quando a segunda palavra começar com s ou r, as consoantes devem ser duplicadas. Exemplos: antirreligioso, antissemita, contrarregra. No entanto, o hífen será mantido quando os prefixos terminarem com r, como hiper-, inter- e super-. Exemplos: hiper-requintado, inter-resistente, super-revista.

QUEM SOU EU

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Salvador, BA, Brazil
Sou paulista, tenho 44 anos, e a seis anos moro em Salvador, Bahia, aonde vim fazer meu mestrado em arte-educação na Universidade Federal da Bahia. Sou professor de Metodologia de Pesquisa Científica na Faculdade São Tomaz de Aquino, nos cursos de Direito, Pedagogia e Comunicação. Presto serviços em Metodologia de Pesquisa Científica - minha especialidade - e Redação pela TEXTO&CONTEXTO: cursos, consultoria e normatização para textos científicos. Tenho atuado a mais de 15 anos junto a alunos de graduação e pós-graduação de universidades como UFBA, Uneb, USP, Unicamp, Unesp, UFPE, UFSC, FGV e universidades de Portugal e África, dentre outras. Em 2008, iniciei disciplinas no doutorado em Educação na UFBA como aluno especial.

ESTRADA

  • Nasci em São Paulo, capital, e fui criado no bairro da Moóca, tipicamente de classe média italiana, nascido como bairro proletário.
  • Nos anos de 1987 e 1988 fui membro individual da Anistia Internacional e em 1989 fui membro de grupo, escrevendo cartas para chefes de Estado e de Governo do mundo todo em prol de presos políticos e de consciência.
  • Em 1989, iniciei bacharelado no Instituto de Artes da Unicamp.
  • Em 1993, trabalhei como voluntário responsável pela biblioteca no Centro Boldrini, hospital referência no tratamento do câncer infantil, em Campinas.
  • Em 1996, com mais seis amigos, fundei o Centro de Cultura e Convívio Cooperativa Brasil, em Campinas.
  • Em 2000, escalei o vulcão Villarica, no Chile, o mais ativo da América do Sul, com quase 4 mil metros.
  • Em 2001, conclui especialização em Metodologia de Pesquisa Científica pela Unicamp.
  • Em 2003, graduei-me na ABADÁ-Capoeira.
  • Em 2007, conclui mestrado na área de arte-educação pela UFBA.
  • Desde 2007, sou membro da Igreja Batista da Graça.
  • Atualmente, sou Membro Internacional e de Rede de Ação Urgente da Anistia Internacional, escrevendo cartas para chefes de Estado e de Governo do mundo todo em prol de presos políticos e de consciência.

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